POEMAS DO CINZA ABSTRATO
NOTURNO
Talvez desta noite
herde o poema que espreitou o dia
nesta noite
que me mantenho oblíquo: farol
deste mar de horas e solidão
assisto o vai-e-vem de elegias
e reinvenções:
versos antigos se reeditam, saltam
da escuridão buscando luz e forma.
Talvez desta noite
o poema nasça
libertando o amanhecer.
CINZAS
Um lampejo de sol
sobre as cinzas das horas. Um vulto
de mulher tomando de assalto
o que sobrou do dia:
- migalhas do pão
- o café derramado
- a folha triste
do calendário que não muda
ainda queimam, tuas impressões:
- as marcas do baton
sobre a pele fria.
POR UM TRIZ
Rompi noites
teci madrugadas a fio
de lã desenhei você
ambígua. No escuro
do quarto
atrasei o tempo
contrariando a força do quartzo
quase venci madrugadas
por um triz.
POEMETO ERÓTICO
A flor da pele
a flor do teu jardim
a flor que trazes
- escondida e ardente
à flor da pele
escorres-me
entre os dentes.
REINVENÇÕES NUMA NOITE
Crio-te
entre as sombras
do quarto, delas
transformo o sonho:
na temperatura de tua pele
na magia das mãos. No leito
há os jogos
a ação, na duração da noite. Nada
será em vão:
te fiz dos sonhos
que irrompem pela janela, pedaços de luz:
a argamassa do teu corpo.
O AMOR
O linho dos desejos
a púrpura dos medos.
A linha da pele
os vãos segredos
na proibição dos mortais.
A órbita impura
nas mãos, o óleo sôfrego
do suspiro longilíneo.
Longe a vida
fremindo...
O minuto, enterrado
o grito, o transmutar
na mágica dos dedos.
NO VÉU DA NOITE
Quando o véu da noite cai
em tua cama te desvenda
nua com o sol nas mãos, a manhã:
em tuas planícies, a água
escorre, o lodo e o sal:
fremindo teu horizonte nasce
de tudo que virou lamaçal
na noite viva. Tua agonia:
na cama nua
a noite desce.
OBS: Os seis primeiros poemas fazem parte do meu livro: Quadrantes Urbanos, lançado no ano de 2006 pela LivroRápido e o último desta relação pertence ao livro: Abril Sitiado, lançado pela Edições Bagaço, no ano de 2011.