LOLA E GINA*
Com insônia, ela procura a rua pela vidraça da janela, os pingos da chuva embaçam sua visão – duas mulheres cortam a noite.
- “Lola e Gina se entrecruzam num semáforo, protegidas entre as pregas do casaco de jeans”.
Esfregou o dedo no vidro, abrindo o campo de visão.
Qual um perfume barato - algo resplandeceu na densidade desta noite e este fortuito encontro não ficou perdido.
- “Arrepios tomaram suas peles, um leve torpor incendiou aquele instante”.
- “Gina era introspectiva, acolhedora e carente, sempre à espera de um grande encontro. Lola, viril e forte, sonhava com um ninho de penugem”.
Como se obedecessem a um comando, no meio da avenida, consumiram a selvageria daquele encontro.
O dia amanheceu coberto por uma nuvem que envolveu toda a cidade.
- “Lola recebeu este apelido de sua mãe, era transexual. Gina, sempre zen, sonhava o dia inteiro”.
Ela não pregou o olho nesta noite, com os olhos inundados de chuva, ainda tremia quando o sol nasceu.
*Conto do livro: O OLHO DO RINOCERONTE